Boa parte dos problemas financeiros vividos atualmente pelas pessoas derivam de alguma armadilha financeira em que acabaram caindo, seja por distração, por falta de capacidade de planejamento, por possuirem conceitos financeiros distorcidos ou pelas intenções duvidosas de pessoas interessadas em lucrar de alguma forma com o infortúnio alheio.
Imersos numa sociedade urbana essencialmente movida pela força do dinheiro, somos instigados a gastá-lo das mais variadas formas e sob as mais surpreendentes justificativas. Muitas vezes, não nos questionamos a respeito e nem avaliamos adequadamente se a forma apresentada é realmente a melhor opção que temos à disposição. Cada passo dado nessa direção pode ser um pé colocado em uma armadilha diferente.
O incentivo da mídia, buscando nos levar a consumir cada vez mais, a facilidade em obter crédito, a redução dos preços e a baixa durabilidade de muitos produtos acabam por nos levar rumo a um ciclo de consumo (e de endividamento) sem fim.
A percepção equivocada de que "ter" é "ser feliz", disseminada exatamente por quem deseja lhe vender alguma coisa, torna-se o golpe final que lança ao fundo do poço uma multidão de endividados.
Talvez a armadilha mais fatal, entretanto, seja a virtualização do dinheiro, um processo que ocorreu com a substituição da presença física das notas e moedas pelo cheque e, mais tarde, pelo cartão magnético, o débito automático e as transferências eletrônicas. Digo isso porque o efeito da virtualização do dinheiro muitas vezes nos passa despercebido, não notamos mais quanto estamos gastando, só enxergamos o valor individual de cada compra e não o seu efeito cumulativo.
Essa virtualização trouxe consigo uma grande mudança na relação das pessoas com o ato de comprar, uma vez que não é mais necessário carregar consigo o dinheiro em espécie (que é "real" e, portanto, finito). Agora carregamos cheques e cartões (dinheiro "virtual"), com limites de crédito que estão bem acima do que realmente temos depositado em nossas contas correntes, o que nos permite gastar de forma quase ilimitada (e não apenas o dinheiro que realmente temos), causando uma enganosa sensação de abundância financeira.
Se o limite de um cartão não é suficiente para atender ao nosso desejo de consumo, solicitamos outro... e outro... como se cada novo cartão adquirido nos tornasse mais ricos! Ao contrário, eles tem o poder de nos tornar mais pobres... e mais endividados!
A consequência de falhas como essas, no corportamento consciente de consumo, é a perda de noção da sua real capacidade financeira. A perda dessa noção está na raiz da maioria dos problemas que se instalou na vida financeira das pessoas.
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